Olhando para a minha vida!

"Em vez de possibilidades, realidades é o que tenho no meu passado, não apenas a realidade do trabalho realizado e do amor vivido, mas também a realidade dos sofrimentos suportados com bravura. Esses sofrimentos são até mesmo as coisas das quais me orgulho mais, embora não sejam coisas que possam causar inveja." (Viktor E. Frankl)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Vivendo com os contrários



Iniciei meu sábado machucando minha testa numa tentativa de voltar para cama e poder dormir mais um pouco, já que eram seis horas da manhã. Certamente, tal estrago resultará dentro de semanas ou meses numa mancha escura, quiçá uma bela cicatriz, porque eu tirei a pele ficando um buraco no lugar. Tudo bem, lógico não dormi mais, correndo atrás do prejuízo, e depois fui feliz ao piquenique com meu filho e amigos da sua escola com um "baita" curativo na testa, quase não chamou a atenção, fora as piadinhas à parte.
Lá no bosque, volta e meia, se ouvia uma criança chorando com ferimento, fruto de algum tombo em decorrência de muita brincadeira, momentos vividos intensamente. Daí a mamãe colocava um gelinho ou um curativo ou simplesmente um beijinho e tudo estava bem novamente.
Nesse ínterim recordei das minhas marcas nas pernas, herança de uma infância vivida em todo sua plenitude, me orgulho de lembrar dos grandes momentos que tive ao lado do meu avô. Tais marcas certamente deixaram minhas pernas menos atraentes desde a adolescência, entretanto, trazem à luz vivências lúdicas as quais eternizaram em meu ser de uma maneira positiva.
Tudo isso faz parte dos "contrários da vida", conforme explana tão bem meu querido padre Fábio de Melo em seu livro Tempo de Esperas. As cicatrizes que ontem geraram dor e choro, hoje me revelam felicidade! Ciente disso, nunca me importei por tê-las, numa atitude de reconciliação com meus contrários, sempre refiro-me a elas como resultado de algo bom e revelador da minha infância de molecagem. E assim procuro levar minha vida com as marcas físicas e emocionais.
Por essa razão, remeto-me ao filme A Vida é Bela, dirigido e protagonizado por Roberto Benigni, o qual na minha opinião é um dos melhores filmes que assisti, onde sabiamente o autor nos apresenta uma situação cheia de "contrários" e também sabiamente nos faz perceber que, apesar do momento trágico dentro de um campo de concentração, podemos dar um sentido diferente, com mais leveza as nossas vidas. Mas como isso é possível?
De acordo com o filósofo Henri Bergson, citado no livro acima, o personagem do filme, Guido, levado ao campo de concentração junto com seu filho Giosué de cinco anos, reconhece em seu filho o vínculo que nos prende a vida, o "elã vital", a força que nos move, que nos conduz e que traz um significado ao cotidiano que nos envolve. E com maestria nos revela o valor da vida, mesmo dentro de uma situação de adversidade e sofrimento. E sob o prisma de uma criança e sua pureza de coração, o pai insere o filho num "jogo da vida", onde o menino acredita no pai herói e que de fato, no final, vence o jogo e ganha como prêmio um canhão de guerra.
Voltando ao meu ferimento, assim que vi a foto tirada de todas as mães participantes do evento, brinquei com minha amiga, preciso de um photoshop. De fato, tal recurso tem o poder de apagar e modificar supostos "defeitos" na imagem, mascarando a realidade, gerando uma ilusão de perfeição. Entretanto, essa ferramenta mágica não tem o poder de remover todo o significado que as cicatrizes nos trazem, da dor vivida e da experiência frutificada, seja ela de superação ou não.
Apesar do ocorrido, optei por fazer as pazes com meu ferimento e me permiti viver intensamente aquele piquenique como mais um presente de Deus em minha vida, infelizmente meu filho teve febre e não curtiu o momento com seus amiguinhos. Chegando em casa, percebi que o problema era inflamação na garganta, e ele teve que entrar no antibiótico, o meu filho odeia o sabor, já melhor no dia seguinte, eu oportunamente lhe disse que o remédio nojento (como ele se expressa) estava curando a dor de garganta dele, e que a balinha docinha não faz isso. Mais uma vez, vivenciando os contrários da vida.
Gosto dessas analogias, de ver a vida com suas adversidades, com seus altos e baixos, com seus encontros e desencontros, e nosso sucesso ou fracasso, nossa felicidade ou infelicidade, nossa paz ou tormento depende da resposta que a damos diante do que ela nos apresenta.

Um comentário:

  1. Inspiradíssima para uma segunda-feira, não é mesmo? Gosto de ler o que escreve, você está sempre me fazendo refletir! Continue sempre nos presenteando com seus pensamentos!

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